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Whitesnake e o último show na Pedreira em Setembro de 2019

Quando David Coverdale anunciou sua aposentadoria ao som melancólico de “Fare Thee Well”, muita gente sentiu o baque. Eu voltei direto para 18 de setembro de 2019, noite em que vivi — sem saber — o último som do Whitesnake em Curitiba.


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Era o festival de Rock Ao Vivo, na Pedreira Paulo Leminski, onde, mesmo quando cai o céu, a gente não arreda o pé. Porque caiu, literalmente. Uma tempestade de chuva e granizos do tamanho de bolas de golf, que parecia saída de videoclipe apocalíptico. O público, firme. Alguns tentavam se esconder em vão. Os casacos, encharcados. Os celulares, inúteis.

Whitesnake, Europe e Scorpions dividiram o palco numa noite que deveria ser histórica — e acabou sendo de um jeito que ninguém imaginava. O Europe nem conseguiu tocar “The Final Countdown”, registrando o único show da vida deles sem o hino final. Até hoje, quando alguém me lembra disso, eu olho pro céu desconfiado.

Lembro que durante o dia, choveu e parou várias vezes. Mas recordo quando Coverdale entrou, com a vibração ainda imbatível e os cabelos secos, a Pedreira vibrou. A volta da chuva ainda era uma promessa como se a tempestade fizesse parte do setlist. Choveu, ele cantou, sorriu, conversou com a plateia, parou de chover, mostrou um pedaço da cuequinha com a bandeira do Brasil, desafiou o clima e passou o que a gente sempre gostou: paixão e entrega.


A banda Europe já não teve tanta sorte. Recordo que tocaram Rock the Night, e depois de estar molhado ao cantar na chuva Walk the Earth, quando começaram com Superstitious choveu tanto granizo, que Joey Tempest tentou continuar, mas nem as caixas de retorno davam vazão aos sons das guitarras. Essa foi a última música da banda em Curitiba. Encerrando o evento cataclísmico, porém em hipótese alguma catastrófico, a banda Scorpions fez um show com a produção técnica precisa alemã, tirando o início de Wind of Changes, que foi um "assofiasco"!

Agora, sabendo que aquela foi a última vez a memória pesa diferente. O granizo virou detalhe cômico; o frio virou folclore; a adrenalina virou lembrança quente. O que fica é a honra de ter visto David Coverdale — nosso eterno “Snakey Lord” — fazer o que poucos fazem: olhar pra carreira inteira, respirar fundo e dizer “fare thee well” do jeito mais digno possível.


Aposentar? Pode até ser. Mas pra quem estava lá naquela noite de 2019, molhado até a alma e cantando Whitesnake sem voz, Coverdale nunca vai embora. Ele só desce do palco. Da história, jamais.

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