Entre a maré e o exagero, o “paredão” de Matinhos visto de perto
- ALEXANDRE MARTINS

- 14 de out.
- 2 min de leitura
Durante a semana, manchetes pipocaram nas redes e nos portais locais: “paredão de três metros se forma na orla de Matinhos”, “barranco assusta moradores”, “praia interditada”. A cada clique, a impressão era de que a cidade havia sido engolida por uma muralha de areia intransponível.
Mas bastou uma caminhada à beira-mar para perceber que a história, como quase sempre, era um pouco menos dramática do que pintaram. O tal “barranco” existe — sim, resultado de uma ressaca recente que recortou parte da faixa de areia —, mas a proporção real passa longe dos três metros noticiados. Em nenhum ponto a erosão ultrapassa 1,9 metro, e o trecho mais alto se estende por pouco mais de 70 metros dentro de um total de cerca de 300 metros afetados.
Em outras palavras: bastava andar algumas dezenas de metros para cada lado que o desnível se tornava facilmente contornável.

Na segunda-feira (13/OUT) a prefeitura, por sua vez, mobilizou escavadeiras para nivelar o terreno e restaurar o acesso, numa ação rápida e necessária. Mas o que chama a atenção é como parte da cobertura se apressa em transformar todo episódio natural em espetáculo — uma maré um pouco mais brava vira “tragédia”, um desnível de areia vira “paredão”.
Não se trata de minimizar o problema. A erosão costeira é real, recorrente e merece monitoramento técnico constante. O que se critica é o sensacionalismo que, em vez de informar, distorce a percepção do público sobre o que realmente ocorre no litoral.

Foto de quinta-feira dia 09/OUT
Matinhos, depois de anos de obras de revitalização, vive hoje uma fase de adaptação natural entre o mar e a nova faixa de areia. Oscilações acontecem, o relevo muda, e isso não significa colapso — apenas o ciclo normal de um ambiente costeiro vivo.
O que falta, talvez, é o mesmo cuidado que se tem com a areia aplicado às manchetes: menos movimento de escavadeira e mais de régua e nível antes de medir a altura dos fatos.




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