BUGONIA o filme perturbador que estreia dia 30 de outubro
- DENISE MORGADO

- 10 de out.
- 2 min de leitura
Há algo de profundamente atual e perturbador em Bugonia. O novo filme de Yorgos Lanthimos chega como um espelho deformado da nossa era — uma era em que a paranoia virou discurso político, as teorias da conspiração se tornaram estilo de vida e a verdade, um território em disputa. É dentro desse mundo em fratura que dois jovens decidem sequestrar uma das pessoas mais poderosas do planeta, convencidos de que ela é uma alienígena infiltrada pronta para destruir a Terra.

O que começa como um delírio, aos poucos, se transforma em um experimento social claustrofóbico. Teddy (Jesse Plemons) e Don (Aidan Delbis) acreditam que estão salvando o mundo; Michelle Fuller (Emma Stone), uma CEO brilhante e impenetrável, acredita estar enfrentando dois lunáticos. Mas Lanthimos, fiel à sua ironia quase cruel, não deixa o público se acomodar em nenhum lado. Há momentos em que duvidamos da sanidade dos raptores — e outros em que a frieza calculada de Michelle faz parecer que talvez… eles não estejam tão errados assim.
O sequestro se transforma num palco de inversões. O poder muda de mãos a cada diálogo, a cada silêncio. O humor negro se mistura com o horror psicológico, e o riso surge sempre acompanhado de incômodo. As cenas em que Michelle tenta racionalizar com seus algozes são uma aula de manipulação emocional e retórica — é a linguagem corporativa sendo desmontada pela loucura militante. Há algo quase alegórico ali: a insanidade dos oprimidos tentando decifrar a monstruosidade do sistema.
Lanthimos dirige tudo com precisão de cirurgião e frieza de entomólogo — observando os personagens como insetos presos em um vidro. A estética é limpa, quase clínica, mas o desconforto é constante. A trilha sonora, pontual e inquieta, reforça o absurdo de uma história que poderia soar inverossímil, não fosse tão próxima da realidade de um mundo onde a desinformação se tornou religião.
No fim, Bugonia não oferece respostas, mas deixa uma sensação de vertigem. Não é um filme sobre alienígenas — é sobre nós. Sobre a necessidade desesperada de encontrar culpados, de transformar medo em narrativa, e de se agarrar a qualquer teoria que nos devolva a sensação de controle. Emma Stone entrega uma performance monumental, oscilando entre vulnerabilidade e dominação, enquanto Jesse Plemons confirma o talento para habitar a insanidade sem caricatura.
Em suma, Bugonia é um golpe de realidade travestido de ficção absurda. Um filme que provoca mais do que explica, que ironiza sem piedade e que, no fundo, pergunta: em qual conspiração nós mesmos escolhemos acreditar?




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