A Geração Z e o colapso do diploma contra a falta de qualificação
- CESINHA WASKO

- 14 de out.
- 2 min de leitura
Durante décadas, o diploma universitário foi tratado como um passaporte garantido para o sucesso profissional. Era o símbolo máximo de ascensão social e a promessa de estabilidade econômica. Mas esse contrato social está ruindo — e quem está sentindo o baque de forma mais intensa é justamente a Geração Z.

Um recente relatório da Criteria expõe um paradoxo incômodo: apesar de acumularem formações e certificados, apenas 8% dos recrutadores acreditam que os jovens estão realmente preparados para os cargos que almejam. A constatação é dura — e revela que o problema talvez não esteja na falta de títulos, mas na ausência de competências humanas que o mercado voltou a valorizar.
O mito da inteligência artificial “culpada”
É fácil culpar a inteligência artificial por tudo. Afinal, soa conveniente: a automação virou a vilã perfeita de um mercado que encolhe suas oportunidades de entrada. Mas o relatório da Criteria sugere algo mais profundo. O desemprego juvenil e a estagnação dos cargos juniores não são apenas efeitos colaterais da tecnologia — são reflexos de um descompasso entre o que as universidades entregam e o que as empresas realmente precisam.
A geração que cresceu ouvindo que “basta estudar para vencer” agora descobre que o diploma não é mais o fim da linha — é só o começo de uma corrida bem mais exigente. Comunicação, resiliência, capacidade de resolver problemas e maturidade profissional tornaram-se bens escassos, tão valiosos quanto um MBA. E é justamente essa lacuna comportamental que está custando caro a toda uma geração.
A tempestade perfeita da autoconfiança abalada
Josh Millet, CEO da Criteria, chama o fenômeno de “tempestade perfeita” — uma combinação de excesso de títulos e falta de preparo real. A Geração Z foi incentivada a acumular credenciais, mas não a lidar com frustração, pressão e competitividade. Resultado: enfrentam o mercado com diplomas reluzentes e autoestima em frangalhos.
Os recrutadores, por sua vez, começaram a inverter o jogo. O peso das universidades diminuiu, e o foco passou a ser a atitude — o fator que não se imprime em um certificado. É o renascimento do mérito pelo comportamento, não pelo currículo.
Um novo ciclo de exclusão
Curiosamente, enquanto a IA ameaça empregos de entrada, setores tradicionais — como saúde, manufatura, transporte e logística — enfrentam escassez de profissionais. Ou seja, há vagas, mas não há gente disposta (ou preparada) para ocupá-las.
O mercado está redesenhando suas fronteiras, e quem insiste em seguir o mapa antigo vai ficar de fora.
Quando o diploma deixa de ser a moeda
No fundo, o que está acontecendo é uma redefinição silenciosa de valor. O diploma, que antes simbolizava competência, agora é visto com desconfiança. A próxima década pode consolidar essa virada: contratações baseadas em testes práticos, perfis comportamentais e avaliações de performance, deixando para trás a velha lógica da titulação como atestado de mérito.
A ironia é que a inteligência artificial, tão temida, pode acabar tornando esse processo mais justo — removendo preconceitos e padronizando a análise de talentos.
Mas há uma verdade desconfortável: não é a IA que está roubando os empregos da Geração Z. É a própria incapacidade do sistema educacional — e dos jovens que dele saem — de entregar o que o mercado realmente precisa. O diploma que ainda possa pesar na parede, vem cada vez menos pesando no contracheque.




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